
Nostalgia: Relembre o grupo Aqualoucos
30 de julho de 2024

Nas décadas de 50 e 60, um grupo de Unionistas que havia dentro do Departamento de Saltos Ornamentais e do Polo Aquático começou a ensaiar despretensiosamente números hilariantes. O local? A piscina de saltos ornamentais, com seus trampolins e plataformas, da Sede Moinhos de Vento, do Clube Grêmio Náutico União.
Eram saltos cômicos e, muitas vezes, representações teatrais em solo, com figurinos extravagantes, que proporcionavam entretenimento aos presentes, mesmo sem essa intenção ou objetivo inicialmente. “A gente só queria se divertir”, conta um dos ex-integrantes do grupo, Newton Herculano Carneiro Pinto.
Nos dias da semana, eles andavam pelo Clube, e havia um horário em que as pessoas sabiam que estariam treinando. E foi assim que os descobriram. “Não era nada programado. Era uma folia. A gente estava no Clube e, de repente, já estava lá no posto do salto fazendo um treino. A gente era louco, pulava de tudo que era lugar. Então, as pessoas não duvidavam das peripécias que nós fazíamos e não havia ninguém nos supervisionando”.
As gerações do Aqualoucos foram compostas por Aloísio Cidade, Antônio Folgiarini, Newton Herculano Carneiro Pinto, Jesse James, Jorge André Fraga (o Pitoco), Manoel Godoy, Martin Aranha Filho, Miguel Scavoni, Milton Borges Vieira, Paulo D’Angeli, Paulo Duarte, Rui Torres, Sérgio Silveira, Vanderlei Scavoni, Renê Sentinger e José Antônio Casagrande, que participaram do grupo de forma alternada.
"O sonho de todo saltador era fazer parte do grupo Aqualoucos"
Newton Herculano Carneiro Pinto, participante do Grupo Aqualoucos
Newton Herculano conta que o sonho de todo saltador era fazer parte, um dia, do grupo chamado Aqualoucos. “Com 12 anos, eu comecei a fazer natação, mas não era o que eu queria. Achava muito monótono! Nadava e via aquela lista no fundo da piscina. E quando eu fazia o movimento para respirar no crawl (modalidade de nado), visualizava a plataforma de 10 metros e aí eu dizia: é para lá que eu vou!”.
Então, Newton foi conversar com o então técnico da época, Justino Martins, e disse a ele que queria abandonar a natação para fazer saltos ornamentais. E Martins perguntou: “Tu tens coragem de saltar lá de cima”? Desde então, o garoto começou a fazer saltos ornamentais. Já com os Aqualoucos, iniciou mais tarde, aos 16 anos.
Segundo um dos integrantes do grupo, Jesse James, o amigo Vanderlei Scavoni era o que mais gostava das ideias malucas da turma. “Certa vez, ele (Wanderlei) disse que ia entrar na água pegando fogo e fez um monte de papel nas costas. Ele tinha um berro incrível, daqueles de terror. Então, botou fogo no vestiário e entrou pegando fogo, e abriu toda a multidão. Quando esquentava a traseira dele, ele pulava na água”, contou, rindo.
“Um dos pré-requisitos para ser um Aqualouco era ser um suicida em potencial”, falou Newton, aos risos, que, em um de seus números, pulava do alto de um edifício. Os Aqualoucos caíram no gosto popular. Tanto que o Clube tinha uma revista aquática que divulgava a inauguração de piscinas no interior, e uma das exigências é que o grupo deveria fazer parte das apresentações.
O grupo foi extinto por questões de saúde dos participantes e também porque, pra ser um atleta de saltos ornamentais, é preciso coragem, concentração, arrojo e ousadia, conforme o ex-participante Newton Herculano.
Memórias de um Aqualouco muito louco

Por volta de 1966, o aqualouco Newton Herculano, na época com 17 anos, foi assistir a uma atração que chegou na cidade: o Circo Aquático Europeu. Ele conta que o grupo tinha um número chamado Aqualoucos - que de Aqualoucos não tinha nada. “Eram umas águas dançantes. Tocava uma música de fundo, e uma pessoa eletronicamente fazia aquelas águas dançarem: subiam, desciam, iam para o lado, tipo chafariz, mudavam as cores, aquilo era o Aqualoucos que eles chamavam”.
Então, Newton e mais dois amigos fizeram uma apresentação para os donos do circo e foram contratados para trabalhar. Entretanto, seu pai foi contra a ideia. Logo disse: “Tira isso da tua cabeça”. Então Newton fugiu de casa e ficou viajando com o circo. “Ganhava o correspondente a cerca de R$ 1000 (mil reais) por semana, o que era um grande valor na época. Imagina receber isso com 17 anos? Resumo da história: após dois anos e meio, a Interpol me achou em Santiago, no Chile, e me trouxe de volta para casa”.
Conheça outros números e causos do Grupo Aqualoucos

Bomba no Capacete: Newton Herculano participava de um número em que caminhava na ponta do trampolim com um capacete furado com um palito de fósforo para fora, e chegava um outro Aqualouco por trás com um cigarro aceso e o acendia. Mas não era um palito de fósforo, era uma bomba. E, quando explodia, o capacete voava metros para cima.
Salto do Prédio: o Newton, o Manoel Godoy e o Jesse James se dirigiam para cima de um telhado de um prédio, um ficava deitado no meio e os outros o pegavam pelos braços e o outro, pelas pernas e ficavam o balançando e gritando “lá vai, lá vai”. Daí o jogavam lá de cima do edifício, mas o que vinha era um boneco, porque no balançar lá de cima do telhado que o Aqualouco do meio ía para trás, as pessoas o deixavam de enxergar. Então, já tinham outros 2 aqualoucos preparando um boneco que jogavam em direção à plateia e que se despedaçava, e o Aqualouco em questão, permanecia lá em cima.

Concurso do Tijolo – Havia concurso de quem jogava o tijolo mais longe. Então, os Aqualoucos pegavam 3 tijolos de verdade e um de papelão pintado igualzinho, que eles mesmo faziam. Colocavam em cima do trampolim, e um dos Aqualoucos gritava: “E agora, vamos ver quem joga o tijolo mais longe” - e jogavam um a um, cada vez mais longe, e eles afundavam na piscina. Então, o Vanderlei chegava e rodopiava com o tijolo falso nos braços e atirava no público. A multidão se abria, e um pai com uma criança no colo se distraiu e ficou parado, e o tijolo veio. “Ele fez uma cara de pavor e foi se encolhendo. Botou a mão na frente, e quando o tijolo bateu e caiu, ele ficou com a mão segurando e olhando para o tijolo, sem entender o que tinha acontecido”, descreveu Newton Herculano.
Striptease no Cabo de Aço: Os Aqualoucos faziam um striptease em cima do cabo de aço. Colocavam dois calções e mais um macacão em cima, que era cheio de botões, dificultando o número, o que deixava o número mais emocionante.
O Bêbado: O Aqualoucos Renê Sentinger realizava um número que envolvia toda a plateia. Ele se fazia de bêbado e começava a importunar as pessoas e zombava dos saltadores falando: “isso eu sei fazer também”, “isso é fácil”, e assuntos do gênero, e tentava se jogar e os outros Aqualoucos simulavam que estavam preocupados e não o deixavam saltar até que o “bêbado” incomodava tanto, que deixavam ele saltar do trampolim, que, no fim, realizava um salto incrível.